Por trás da postagem em redes sociais emocionalmente densa e politicamente ácida publicada pelo ex-governador Anthony Garotinho a seu filho, o atual prefeito de Campos, Wladimir Garotinho, revela-se mais do que um desabafo familiar, trata-se de uma fissura dentro de uma das mais longas dinastias políticas do Estado do Rio de Janeiro. É a confissão pública de uma fratura entre pai e filho, o velho e o novo modo de fazer política, mas restrito à Planície Goitacá. Parece que dessa vez não se trata das fantasiosas histórias criadas pelo ex-governador, que vem do teatro, o que aprendeu e praticou por décadas na política.
Na mensagem, Garotinho evoca o amor paternal, mas não economiza em conselhos não solicitados, críticas à condução política do filho e insinuações de ingratidão. O ex-governador, que por mais de quatro décadas comandou palanques e influenciou nomeações em várias esferas de poder e poderes, lamenta hoje estar à margem, não apenas do governo de Wladimir, reeleito com quase 200 mil votos em 2024, mas da política como um todo.
Wladimir, que desde o início de seu primeiro mandato optou por não dar cargos, voz ou qualquer espaço político-administrativo ao pai, demonstra ter construído uma trajetória independente, algo raro em famílias políticas. A estratégia, arriscada, parece ter dado certo nas urnas. Mas cobrou seu preço que é a fúria pública de um político que entre algumas características, está a de saber destruir um desafeto político.
Garotinho, que amargou um resultado pífio ao tentar se eleger vereador no Rio de Janeiro em 2024, vê agora, do lado de fora, centenas de nomeações sendo publicadas no Diário Oficial sem seu “pitaco”. E não é só ele. Sua mãe, Rosinha Garotinho, ex-governadora também já fez críticas públicas ao filho recentemente, reforçando a fissura política como drama doméstico.
O apelo de Garotinho para que não seja “enterrado vivo” soa mais como um lamento de quem foi alijado do poder e perdeu o protagonismo dentro de seu próprio clã, na cozinha da Lapa. Mas também há ali a tentativa de resgatar sua relevância, talvez já de olho em 2026, quando não descarta mais uma candidatura, a qual, se ocorrer, deverá ser feita sem o apoio da máquina que um dia foi sua, e hoje é de seu herdeiro, e tem mais uma pimenta, pois seria então candidato a Deputado Federal, o mesmo que deve ter como destino o filho? Com que estrutura o Garotinho pai contaria para tal aventura depois de ter pouco mais de 8 mil votos como candidato a vereador no Rio de Janeiro?
Wladimir, por sua vez, prefere seguir o caminho do quase silêncio. A qualquer momento publica em suas redes sociais uma mensagem extraída de uma página emotiva, aquelas que tiram lágrimas até mesmo dos mais insensíveis e pronto, já vira a página e parte para mais uma negociação e quem sabe nomeação. Apesar de jovem escolheu construir o futuro cortando laços com o passado, e parece esse ser o erro imperdoável aos olhos do patriarca, que entende não se tratar apenas de não ouvi-lo, mas de tentar apagar sua sombra. Quando Garotinho fala em traição, do que se trata? Quem traiu quem?
A crise exposta publicamente, o que não é novidade, escancara o colapso no modelo de sucessão política familiar à base da obediência, agora escrevendo a própria história, mesmo que isso signifique desagradar os pais, até bem pouco tempo os padrinhos políticos.
Garotinho pede publicamente socorro para que seu filho não o enterre vivo. Mas, ao que parece, Wladimir cavou um novo espaço político onde não há mais lugar para o pai. E, como o próprio ex-governador reconhece, “todo erro político tem consequências”. Para ele, o erro pode ter sido criar um herdeiro que não aceita ser tutelado. Para Wladimir, o erro pode ser desdenhar da memória de um líder que, por bem ou por mal, ainda tenta influenciar parte do eleitorado.
O embate não é só entre gerações, é entre projetos, egos e, sobretudo, entre o passado que tenta resistir e o futuro que avança com a história sendo escrita. Em breve, bem em breve, fotos, sorrisos, abraços, mãe falando em paz e acertos, e tudo voltando ao normal, com os acertos no andar de cima na casa rosa da Lapa. Que tal?
Nem a foto usada na postagem do Garotinho é de álbum de família, ou alguma que pudesse ter no celular de encontros recentes. Usou uma de campanha política em carreata ao lado do filho o dando apoio. Sábio. Sobre o longo texto escrito pelo pai, está lá na página oficial dele …
Anthony Garotinho pede ‘socorro’ nas redes sociais e que Wladimir Garotinho não o enterre vivo

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