A manifestação final do procurador-geral da República, Paulo Gonet, no caso que investiga tentativa de golpe de Estado, joga luz sobre algo que já não se pode ignorar, de que Jair Bolsonaro (PL) está no centro de uma crise que é ao mesmo tempo judicial, política e moral. Mais que um ex-presidente encurralado, ele se torna símbolo de uma ruptura institucional.
O parecer da PGR, com mais de 500 páginas aponta que Bolsonaro não foi apenas cúmplice ou omisso, mas que liderou, articulou, incentivou e instrumentalizou o aparato estatal para tentar destruir o Estado Democrático de Direito. São cinco crimes gravíssimos que vão de tentativa de golpe a dano ao patrimônio público tombado. É muita coisa para um homem que se apresentou como “salvador da pátria”.
Agora, o processo segue para as alegações finais da defesa e, depois, julgamento no STF. Se condenado, Bolsonaro pode ir parar na cadeia. E, pela primeira vez, isso não parece mais uma hipótese remota. Mas, talvez mais devastador do que a prisão, seja o que já está acontecendo com sua imagem e sua influência.
Desde que perdeu as eleições em 2022, Bolsonaro não soube fazer o que um líder político minimamente hábil faria, reorganizar sua tropa, rever estratégias, buscar alianças. Ao contrário, se trancou numa bolha de vitimismo, negacionismo e teorias conspiratórias. Nem seus próprios aliados mais próximos conseguem esconder o constrangimento.
E o preço chegou. O bolsonarismo segue aceso nas redes, mas não mais com a força de antes. Nas ruas, há mais silêncio do que buzinaço. No Congresso, crescem os movimentos silenciosos de distanciamento. E no entorno do ex-presidente, o abandono já começou.
Lideranças da direita que até ontem faziam fila para tirar foto com Bolsonaro agora evitam associação direta. Deputados, prefeitos e figuras emergentes do campo conservador entendem não mais ser interessante se manter colado a um homem na iminência de ser preso.
A verdade é que Bolsonaro está hoje sem poder, sem plano e sem escapatória. Preso no próprio labirinto de erros, perdeu o timing, perdeu o rumo e, aos poucos, perde até os seus.
O julgamento previsto até setembro pode ser o mais duro golpe, e esse, não planejado. Caso condenado, além de estabelecer um marco jurídico importante para a democracia brasileira, a decisão pode enterrar de vez as pretensões políticas eleitorais de Bolsonaro, e de quebra, desencorajar futuros aventureiros autoritários.
Entre a prisão e a ruína política, o ex-presidente segue apostando no caos. Mas até seus aliados mais fiéis começam a perceber que talvez o mito esteja definitivamente fora do game.
O mais duro golpe, e esse, não planejado

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