A decretação da prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL), nesta segunda-feira (04), pelo ministro Alexandre de Moraes, não é apenas um novo capítulo da crise institucional brasileira, é um enredo tragicômico que escancara o grau de distorção da política nacional. O país que já viu seu atual presidente ser preso e depois eleito, agora assiste ao ex-presidente, que fez da prisão de Lula o principal motor de sua ascensão, cair na mesma armadilha que ajudou a construir.
Bolsonaro, que sempre se vendeu como o “limpo” contra o “sistema”, agora figura como investigado por tentativa de golpe e outros crimes que atacam diretamente a ordem democrática. O mais irônico? Durante depoimento ao STF, chegou a convidar o próprio Alexandre de Moraes para ser seu vice numa eventual chapa presidencial em 2026. Um gesto que oscila entre o deboche e o desespero, e revela o nível de improviso, ou desorientação de quem sempre agiu mais com o fígado do que com estratégia.
A simbologia dessa prisão não pode ser subestimada. Não se trata apenas da queda de um ex-presidente, trata-se do colapso moral de uma narrativa que por anos explorou o “nós contra eles”, o “bandido de estimação do sistema”, o “Brasil acima de tudo”. Bolsonaro fez da prisão de Lula um palanque e, agora, vê o palanque sendo substituído por tornozeleira.
O Brasil, mais uma vez, vê sua democracia posta à prova. O eleitorado, cansado da eterna briga entre “lulistas” e “bolsonaristas”, pode estar à beira de uma ruptura com esse ciclo vicioso de salvadores da Pátria que terminam atrás das grades, ou perto delas. A prisão de Bolsonaro poderá, sim, inflamar sua base mais fanática, mas também poderá representar o início de seu ocaso político.
O problema é que o vácuo que se forma pode ser tão perigoso quanto os extremos. O país segue entre grades e palanques, polarizado, instável e sem um horizonte claro. Em meio ao ruído dos discursos e à teatralização do poder, resta ao eleitor decidir se segue refém desse ciclo ou encontra uma nova forma de caminhar.

O atual presidente foi eleito não apenas por simpatizantes ou aqueles que o idealizam como Salvador da Pátria . Foi eleito com margem apertada entre aqueles que elegem a democracia como o bem principal . É difícil entender como uma grande parte da população acha que por estar a favor de detratores da democracia ( mais que desmascarados pelos próprios depoimentos dos acusados de golpe ) estariam imunes aos seus efeitos . Ou pior , que não haveriam efeitos . A crise não é institucional . É de consciência mesmo