O anúncio feito pelo Hamas de um “cessar-fogo permanente” encerra, ao menos no discurso, um dos capítulos mais devastadores do conflito entre Israel e Gaza. A notícia, recebida com alívio, no início da tarde desta quinta-feira, em muitas partes do mundo, surge cercada por desconfiança e expectativa, pois trata-se de um ponto de virada real ou apenas de uma pausa tática num ciclo de violência que parece interminável?
Politicamente, a declaração é fruto direto da pressão internacional e das negociações mediadas por Estados Unidos, Egito e Qatar. Ela chega num momento de desgaste profundo de todas as partes envolvidas, militar, econômico e moral. Mas o anúncio, por si só, não significa paz. É um gesto que precisa ser confirmado por atos concretos, com a liberação de reféns e prisioneiros, retirada de tropas, entrada de ajuda humanitária e garantia de reconstrução em Gaza.
Do ponto de vista humano, o cessar-fogo representa uma trégua na dor. Civis palestinos e israelenses foram reduzidos a números em um conflito de narrativas e interesses, mas a dimensão real está nas famílias que esperam notícias, nos corpos soterrados sob escombros e nas crianças que cresceram em meio a sirenes e destruição. O anúncio reacende uma esperança tímida, e também o medo de mais uma decepção.
A experiência histórica mostra que cessar-fogos duradouros só prosperam quando acompanhados de compromissos de reconstrução, garantias internacionais e políticas de reparação. É preciso transformar o gesto político em base humanitária. A paz não se sustenta apenas na ausência de ataques, mas na presença de dignidade, com escolas abertas, hospitais funcionando, pessoas voltando a caminhar sem medo.
Israel enfrenta seu próprio dilema interno entre a pressão por segurança e a responsabilidade ética diante das consequências humanitárias, enquanto o Hamas tenta se reposicionar politicamente após uma devastação que atingiu sobretudo a população civil. Nenhum dos lados sai vitorioso; todos saem marcados.
O desafio, agora, é converter o cansaço da guerra em vontade política real. O “cessar-fogo permanente” será histórico se for acompanhado de verificação, reconstrução e empatia. Do contrário, será apenas mais uma pausa no mesmo roteiro de dor.
Hamas anuncia e o mundo comemora o cessar-fogo com Israel

You Might Also Like
A hipocrisia das derrotas entre os apitos e as urnas
outubro 21, 2025
O poder do afeto quando o político transcende a política
outubro 20, 2025




Nenhum Comentário! Ser o primeiro.