Por mais uma vez, e talvez não a última, Eduardo Paes (PSD) garantiu que não será candidato ao Governo do Estado em 2026. Em tom de brincadeira, durante um evento no BNDES, o prefeito do Rio voltou a dizer que ficará até o fim do mandato, como prometido na reeleição. Mas a política brasileira já nos ensinou a desconfiar da literalidade dessas declarações.
Afinal, quem vive a cena política fluminense sabe que Paes não saiu de cena. Muito pelo contrário: está em plena atuação. Alinhado com a ala centro-esquerda, costura alianças, ocupa espaços de visibilidade nas propagandas partidárias e se posiciona estrategicamente no tabuleiro que já está sendo montado para a sucessão estadual.
A súbita reafirmação de que ficará onde está soa mais como uma pausa estratégica do que uma desistência real. O Rio vive hoje um ambiente político instável, com o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União), e o secretário Washington Reis (MDB) se movimentando como peças centrais de um novo jogo de forças da base do Governo. O tom subiu e o clima pesou. Paes, experiente como é, parece preferir o papel de espectador atento, e, quem sabe, de articulador discreto nos bastidores. Enquanto os outros se enfrentam, ele preserva capital político e aguarda o momento certo para agir.
Não custa lembrar que o mesmo Eduardo Paes, ao se reeleger prefeito, prometeu cumprir integralmente o mandato. No entanto, em reunião recente teria sinalizado interesse em disputar “uma eleição próxima”. Ora, em política, as palavras importam, e muito. Quando ditas por alguém com a habilidade retórica de Paes, mais ainda. Trata-se, possivelmente, de um roteiro já conhecido em negar hoje para ser aclamado amanhã como “única saída viável” ou “candidato natural do grupo”.
Paes conhece bem os riscos de uma candidatura. Em 2018, foi derrotado por Wilson Witzel, impulsionado por Jair Bolsonaro. Aquela derrota, mesmo com o apoio da máquina do Estado, que o tinha como sucessor de Pezão, foi um baque. Voltar ao ringue agora, sem a certeza da vitória, pode ser considerado um movimento arriscado demais, e, dessa vez, lutando contra a máquina do Estado. Daí a necessidade de manter o jogo em suspenso, sem renúncias e sem compromissos públicos definitivos.
Por isso, quando Eduardo Paes diz que “não será candidato”, o que ele está realmente dizendo é: “ainda não é hora de dizer que serei”. Em política, quem diz que não vai, geralmente já começou a ir. E o prefeito sabe disso melhor do que ninguém.
Nenhum Comentário! Ser o primeiro.