O primeiro dia de julgamento no Supremo Tribunal Federal sobre a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro expôs uma contradição incômoda para os réus, onde nenhum dos quatro advogados que subiram à tribuna se arriscou a dizer que não houve golpe. O silêncio coletivo sobre essa tese já fala mais alto do que qualquer alegação.
Se realmente houvesse margem para contestar a narrativa de que as invasões às sedes dos Três Poderes representaram um atentado à democracia, seria natural que algum advogado a utilizasse como arma central de defesa. Mas não, todos, sem exceção, preferiram se refugiar na individualização das condutas. O discurso foi praticamente o mesmo, mudando apenas o personagem no “meu cliente não participou, não estava lá, não aderiu aos atos”.
Esse movimento tem duas implicações claras. A primeira é que, na prática, os réus reconhecem que o episódio existiu, foi real e foi um ataque direto às instituições. O máximo que tentam agora é escapar da pecha de participantes. A segunda é que não há qualquer espírito coletivo entre eles. Cada advogado cuidou apenas do seu réu, como se a derrota de um não tivesse qualquer consequência para os outros. É o retrato de um movimento que nasceu desorganizado, cresceu no improviso e agora morre fragmentado.
No campo político, o efeito é devastador para a narrativa de quem ainda tenta minimizar o 8 de janeiro como simples protesto ou “manifestação pacífica”. Se nem os defensores mais interessados em aliviar a barra dos acusados ousam questionar o caráter golpista do episódio, essa tese perde sustentação até no plenário do Supremo.
O julgamento continua e ainda veremos embates sobre dosimetria de penas, provas e circunstâncias individuais. Mas, no plano simbólico, o recado já foi dado: ninguém nega que houve uma tentativa de golpe. O que resta aos réus é tentar provar que estavam em outro lugar naquele dia, como se a história pudesse ser apagada com um álibi mal costurado.
Foto: Gustavo Moreno / STF
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