O Brasil vive uma cena que poderia facilmente ser roteiro de ficção, mas é realidade pura. Dois dos principais nomes da história recente do país, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, protagonizam um contraste incrédulo, tendo um, que já esteve atrás das grades e voltou ao comando da nação, e o outro, que até pouco tempo ocupava o mais alto cargo da República, cumpre hoje prisão domiciliar após condenação pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e pode ir para trás das grades por condenação a mais de 27 anos de cadeia.
Lula foi preso em 2018, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá, permanecendo encarcerado por 580 dias. A prisão dividiu o país, fortaleceu narrativas de perseguição política e deixou sua marca na memória coletiva. Em 2021, o STF anulou as condenações, reconhecendo falhas processuais e a parcialidade de julgadores. O desfecho, que poderia significar um fim político, acabou abrindo espaço para um retorno histórico, quando em 2022, Lula foi eleito novamente presidente da República, justamente na disputa contra Bolsonaro.
Bolsonaro, por sua vez, vive o caminho inverso. Após governar o país entre 2019 e 2022, foi alvo de uma série de investigações sobre tentativas de golpe de Estado e ataques à democracia. Agora veio a sentença e condenado pelo STF a 27 anos e 3 meses de prisão em regime fechado pelos crimes de tentativa de golpe, organização criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, entre outros. Hoje, cumpre prisão domiciliar, monitorado por tornozeleira eletrônica, e recebe visitas autorizadas judicialmente.
A comparação é inevitável. Enquanto Lula transformou sua passagem pela prisão em bandeira política e capitalizou o discurso de vítima do sistema para regressar ao Planalto, Bolsonaro enfrenta um processo que ameaça não apenas sua liberdade, mas também o legado de sua trajetória política. Se o petista foi acusado de se beneficiar de esquemas de corrupção, o ex-capitão é acusado de atentar contra a própria democracia que jurou defender.
O contraste não poderia ser mais simbólico, pois o líder que um dia foi preso por decisão judicial agora abre a Assembleia Geral da ONU em Nova York, representando o Brasil no cenário internacional, enquanto aquele que governava o país há menos de três anos encontra-se recolhido em prisão domiciliar, condenado pela mais alta Corte do país.
Essas trajetórias revelam o quanto a política brasileira está intrinsecamente ligada ao Judiciário. Em ambos os casos, o STF foi o ponto de inflexão, anulando condenações que devolveram Lula ao jogo e aplicando a pena mais dura já vista contra um ex-presidente, no caso de Bolsonaro.
No fundo, esse espelho da história recente do Brasil expõe uma democracia ainda em disputa, onde líderes populares transitam entre palácios, tribunais e prisões, e onde o futuro político parece sempre pendurado na balança entre poder, justiça e memória.
Nem vou falar do cenário do Estado do Rio de Janeiro e seus ex-governadores, deixarei essa para uma próxima.
Da prisão à Presidência, e da Presidência à prisão!

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